quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O LOBISOMEM

Garantem ter-me avistado 
nos mais inóspito lugares,
desde as florestas geladas
até o aconchego dos lares, 
sempre meio lobo, meio homem,
e tendo de ambos por igual
as fúrias que os consomem.
Dizem as lendas antigas
que tenho as sobrancelhas unidas
por um grosso tufo de pelo, 
hirsuto, rijo e cortante
como o meu próprio cabelo.
Dizem também que o meu corpo
tem uma força tamanha
que mata e desconjunta
de forma imprevista e estranha.
E aqueles que me temem
bem se podem acautelar
se a noite for de quinta-feira
e no céu houver luar.
Ao certo, nem eu sei bem se existo,
e mesmo com um espelho à frente
volto o dorso e não insisto, 
pois se pudesse escolher
seria outra coisa que não isto.
Mas nisto podem acreditar:
o que mantém o lobisomem
são os temores que o consomem 
e que os homens não param de inventar.

(Texto de José Jorge Letria. In: Os Animais Fantásticos. SP: Peirópolis, 2008.)

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